Cardeal
Orani João Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ)
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ)
Vivemos tempos especiais, em que
grandes momentos de evangelização acontecem ao mesmo tempo, e grandes desafios
nos são lançados.
Nessa semana que finda, o Papa
Francisco celebrou a missa de ação de graças pela canonização do “Apóstolo do
Brasil”, José de Anchieta. Além de sua influência na história de nosso país e
também da cidade do Rio de Janeiro, ele foi um jovem cristão que soube
enfrentar desafios e anunciar o evangelho em condições as mais diversas no
início da presença portuguesa em nosso país.
No final desta semana iremos celebrar
o Domingo da Misericórdia quando, em Roma, o Papa Francisco irá canonizar os
Papas João XXIII e João Paulo II. Homens de Deus, nossos contemporâneos que são
exemplos de vida cristã para nós. São sinais colocados em nossos horizontes
para que encontremos também nós o caminho da santidade.
A oitava da Páscoa nos faz refletir
sobre os acontecimentos da Semana Santa, a bela participação do povo de Deus em
massa em todas as celebrações, e os desafios de nossa presença em situações
extremas dessa grande cidade cheia de desafios.
Em nossa Arquidiocese, tivemos a
páscoa eterna de um sacerdote relativamente jovem que tanto serviu ao povo de
Deus. Celebramos solenemente São Jorge com um grande afluxo de devotos. Também,
como todos viram pelos noticiários, tivemos os acontecimentos que envolveram a
nossa Catedral no grito por melhores condições de moradia. Mesmo sabendo que o
horizonte é muito mais vasto, os grupos e comunidades de nossa Arquidiocese que
trabalham nessa área deram toda assistência e encaminhamentos cristãos. Os
trabalhos sociais são grandes em todos os níveis, tanto na assistência, como na
promoção e na reinvindicação. Temos a maior rede de assistência social quando
incluímos, além da arquidiocese, também as congregações religiosas, novas
comunidades, irmandades, entidades ligadas a católicos, e tantos outros
trabalhos históricos, desde Anchieta.
Tive a oportunidade de celebrar o
Tríduo Pascal em algumas comunidades, levando a todos a certeza de que a vida
venceu a morte! O encontro com o povo nessas comunidades sempre é muito
carinhoso, ao mesmo tempo em que nos compromete com suas causas e sonhos.
Somos chamados a viver testemunhando o
Cristo Ressuscitado. Somos chamados a viver a missionariedade como sal da terra
e luz do mundo.
Celebramos a vida, morte e
ressurreição de Jesus – o mistério pascal. Celebramos o centro da nossa fé. O
Filho de Deus, o Verbo Eterno que se fez homem, veio nos trazer a vida. A Sua
presença sempre incomodou, incomoda e incomodará porque nos ensina a estar no
mundo sem ser do mundo. Jesus vai dar a sua vida, vai se entregar e vencer a
morte com a sua morte-ressureição, que nos dá a certeza de que, por mais que o
mundo rejeite Jesus Cristo, sempre a vida e a ressurreição triunfam.
A Igreja vive em meio a dificuldades e
perseguições, vive na diversidade de situações, pois nós trazemos em vaso de
barro uma Palavra que é de uma riqueza imensa – Deus amou o mundo mandando o
seu Filho Jesus para nos salvar.
Estar no mundo sem ser do mundo,
procurar viver a caridade sem ser uma ONG, e sim cristãos comprometidos com
Cristo e com os irmãos. São desafios antigos e novos sempre presentes.
Celebramos a Páscoa com alegria e
continuamos a fazê-lo por oito dias solenemente, e, depois, até Pentecostes
como um tempo especial de festa e anúncio alegre. A liturgia nos atualiza no
sentido de que temos Jesus, esse Jesus que incomodou, que queriam eliminá-Lo e
que Ressuscitou. A nossa vida não é diferente: estamos no mundo, no trabalho,
no estudo, na realidade cultural, porém, nós trazemos uma Palavra que é vida e
salvação. O Evangelho nos ensina como viver como cristãos hoje: renovação das
promessas batismais, para sermos sinais de que em Jesus Cristo se encontra a
verdadeira vida, testemunhamo-lo, proclamamo-Lo. Em qualquer situação somos
chamados a ser testemunhas Daquele que é vida, para poder ser sinal de Jesus
Cristo na sociedade.
Proclamemos o Evangelho com a palavra,
o testemunho ao estar no meio do mundo, anunciando o mundo novo que é Cristo.
No âmbito do Ano da Caridade da nossa
Arquidiocese, devemos lembrar que a primeira maneira de viver a caridade é ser
caridoso com o próximo. E amar o próximo requerer uma conversão profunda,
deixar de lado as amarras do pecado e viver a luz do mundo, que é o Cristo
Ressuscitado! A Igreja se compromete com o outro não só com as suas
preocupações materiais, mas principalmente com o sentido último de sua vida e o
valor de sua própria pessoa enquanto filho de Deus, que no fundo é viver como
cristãos.
Na Vigília Pascal renovamos as
promessas batismais. Fomos preparados pela Quaresma seja como tempo de
penitência, seja com as reflexões litúrgicas, em especial com o tema da água,
da luz, da ressurreição. Eis que chegamos ao cume do ano litúrgico e a Igreja
nos conduz a reavivar esse grande dom de Deus em nossas vidas: o nosso Batismo,
o ser cristão.
Ao falar sobre a água, recordemos o
diálogo com a Samaritana. Jesus iniciou o seu diálogo com ela mesmo que os seus
discípulos ficassem estupefatos. Ele disse à estrangeira: "Dá-me de beber”
(cf. Jo 4,7). Aqui fica um questionamento importante: por que eu vivo, qual a
razão de minha vida, da verdadeira vida?
Devemos viver a nossa vida iluminados
por Cristo. A Samaritana, pela sua vida, pelo seu comportamento imoral, sai
mostrando aos outros que o Messias que ela encontrou chamou-a a viver uma vida
completamente nova. Apontar o pecado dos irmãos deve ser para que o pecador
saia do pecado e procure viver uma vida nova, iluminado completamente por
Cristo.
Quem encontra Cristo, a água viva,
vive uma vida nova e testemunha Jesus. Por isso, outros vêm ver Jesus pelo
testemunho da Samaritana, uma estrangeira, uma pecadora pública. A Palavra viva
é decisiva para que toda pessoa que tenha sede da Palavra de Deus possa viver e
encontrar os caminhos de uma vida iluminada.
Nosso Senhor Jesus Cristo nos dá uma
nova vida que renova, que transforma, que tira água viva da Pedra e que sempre
dá a possibilidade de um recomeço. Tantos são os corações petrificados que se
transformam em água viva pela graça de Deus. Devemos, pois, enxergar o chamado
da conversão, somos testemunhas de Jesus Cristo na sociedade.
Somos convidados a ser pessoas que
encontraram razões para se encontrar com Jesus Cristo.
Somos chamados a ser luzeiros da
esperança, de vida nova, iluminando o ambiente de trabalho, os vizinhos, os
amigos como alguém que encontrou a vida nova, como autênticos
discípulos-missionários.
No final do episódio da Samaritana
está o resultado de quem é iluminado por Cristo: "Já não cremos por causa
das tuas palavras, pois nós mesmos ouvimos e sabemos que este é verdadeiramente
o salvador do mundo” (cf. Jo 4,42). Essa maturidade de quem se encontra com o
Senhor: vimos e ouvimos que este é o Filho de Deus, fazendo a experiência do
Senhor que nos chamou, e nós encontramos a verdadeira vida em Jesus Cristo.
Agora, depois de renovarmos as
promessas do nosso Batismo, somos chamados à santidade e a testemunhar o
Redentor no mundo, amadurecendo nosso itinerário de fé, nossa caminhada
pastoral, e encontrar Jesus Cristo Ressuscitado.
A pedra do sepulcro que foi removida,
o túmulo vazio, os encontros com o Ressuscitado nos sejam atualizados em nossas
vidas, hoje, para sermos como os primeiros discípulos: testemunhas da
Ressurreição! Assim como São Jorge, Anchieta, João XXIII, João Paulo II e
tantos outros, estejamos no mundo vivendo o nosso Batismo, sendo sal e luz
proclamando a vida de Cristo nessa sociedade tão injusta e carente. O horizonte
é vasto. A missão é enorme! Estejamos unidos nesse belo e importante trabalho
para o bem e salvação das pessoas. Continuemos a viver com alegria o tempo
pascal, e que, um dia, cheguemos juntos à Páscoa eterna.
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