A TERRA FIRME HÁ DE VOLTAR!

Fotos: Valter Calheiros


Chegou novamente o tempo das grandes águas. Em Manaus a notícia mais divulgada é sobre a enchente dos Rios Negro e Solimões. Será que a grande enchente do ano de 2009 foi um capricho da natureza ou foi um sinal de alerta? Bem que poderíamos ter respostas mais objetivas e precisas, mas nossas Universidades, Faculdades, Institutos e Agências de Desenvolvimento ainda não despertaram e a miopia parece ser generalizada.

Sem dúvida nenhuma é um acontecimento que nos faz pensar até onde a natureza irá levar suas águas. Nas rodas de conversas chegamos a relacionar os possíveis culpados pelo fato. Na lista dos mais indicados estão os governantes do passado, pois os atuais lavam as mãos nas águas do rio dizendo que a culpa é da natureza e que isso é assim mesmo.

Como impedir um desastre maior? Até quando vamos desafiar a natureza, implantando inúmeros projetos que degradam violentamente o meio ambiente como é o caso das hidrelétricas de Santo Antonio e Jirau no Rio Madeira, Belo Monte no Rio Xingu, a proposta de construção de um porto no excepcional fenômeno do Encontro das Águas dos Rios Negro e Solimões e a insana e brutal ação do Exercito Brasileiro para retirar ribeirinhos que tradicionalmente habitam a Comunidade do Jatuarana? Será que tudo isso é castigo de Deus e por isso está mandando muita água para nos afogar? São perguntas que toda a sociedade deve se empenhar para responder, apenas hipóteses não serão suficientes.

Na área da Feira Manaus Moderna, postes de iluminação pública estão sendo utilizados como marcadores do nível da cota d’água. Assim, com esta informação técnica, caso as águas voltem a invadir a cidade nos próximos anos, ninguém mais – moradores e governantes - poderá dizer que não sabia ou que não fora avisado.

Água é vida! Socorrer os mais necessitados é dever de toda a sociedade! No entanto, administrar uma cidade com mais de 2 milhões de habitantes,  requer um  planejamento com visão de futuro priorizando a educação, ciência e tecnologia, despertando a criatividade e inovação para a melhoria das condições de vida da população. O incentivo na realização de pesquisas voltadas para as vocações regionais pode ser determinantes para as mudanças que se fazem necessárias.

É notório que o modelo de política pública planejado para a nossa gente está voltada para a continuidade dos desmandos da classe política dominante, que sempre produz argumentos suficientes para manter o pires na mão e com o arrecadado gastar o dinheiro do povo em dúzias e dúzias de tábuas e pregos, oferecendo também recursos econômicos como ajuda instantânea e passageira, recursos oriundos do trabalho e suor do próprio povo que se vira nos trinta para pagar tantos impostos.

Para os detentores do poder político, todo o esforço do momento é voltado para transformar o fato histórico em uma grande passarela e nela brilhar com as luzes dos holofotes e publicá-las nas múltiplas formas de mídia, tornando o sofrimento do povo motivo de redenção administrativa, glória política e vulto histórico eternamente homenageado.

Fico a imaginar o que pensa o caboclo do beiradão, ao indagar qual será o próximo motivo que os levará novamente às manchetes dos jornais, sabendo que no retorno da terra firme ninguém mais estará interessado em saber como ele fez para salvar seus curumins e cunhatãs, proteger seu lar, montar a maromba para salvar suas galinhas, patos, porcos, cachorros e vacas. Calejado da vida, lhe resta à certeza de que a terra firme há de voltar!

Valter Calheiros – Manaus-Am, 18/05/2012
É educador, pesquisador e fotógrafo do Movimento S.O.S Encontro das Águas.
Pós-graduando em Pesquisa e Ação Social na Faculdade Tahirih - Manaus-Am.

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